A NOITE ESCURA DA ALMA
- 'Senhor, eu vejo
um abismo em minha frente. A taça está cheia de fel até a borda. Eu vejo
corações angustiados, sonhos esfacelados, dores sem fim!... Eu ouço o
grito rouco de dores escondidas, vindas de toda parte, a ferir meu
coração!..'
“VAIRAGIA, é a viva rebelião contra toda limitação do EU, contra todo o egoismo dos outros e de sí próprio” . Bhagavan Das.
”A intensidade desta angustia será a força que acabará por romper as cascas do EU”. Clara Codd
“Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a minha vida não doer, nem desembarque onde eu possa esquecer!” Fernando Pessoa
“Dói-me a vida aos poucos, aos goles em interstícios sem chorar”. Fernando Pessoa.
Disse o mestre Tibetano:
- 'A noite escura da alma, não se refere à
tristeza humana, a sonhos não realizados, mas aquele momento que a alma
conclama a natureza inferior, à união com a divindade, mostrando que o
UNO e as partes são a mesma unidade, um só SER. Então a dor do mundo
passa a ser sentida no coração, e a angústia do sofrimento alheio chicoteia o coração amante. É a alma conclamando a personalidade a se
desvencilhar do visgo do “não eu”. Um momento do SER, a realidade livre
de fascinação, o esfacelamento da ilusão, e a verdade deste mundo de
dor, que precisa ser redimido com amor.'
É doce convite de amor da alma, para buscar o coração do SENHOR!
O esfacelamento do Eu Inferior que busca, sem cessar, sonhos que não existem, esperanças nasciturnas, imagens sem contorno, devaneios que se esvaem antes mesmo de nascer.
O despojamento das impurezas interiores expresso na poesia de Fernando Pessoa:
- 'Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobre o teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
...Não tens vestes, não tens nada :
Tens só teu corpo que és tu.
Despiram-se das vestes das ilusões, morreu a fascinação, só restou a alma, sem as impurezas das vestes maculadas. Eis a alma nua singrando a amplidão!...'
Ismael de Almeida
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